Algumas empresas internacionais de comércio electrónico mostram-se indisponíveis a fazer o envio de produtos para Angola quando a solicitação indica os Correios de Angola como intermediário na transacção, por causa dos recorrentes casos de perda de correspondência, que em muitos casos acaba por reverter contra elas. Isso mesmo constata o Expansão, após um levantamento onde foram colhidos depoimentos de vários usuários de e-commerce que compram produtos no estrangeiro.
Quando a correspondência é perdida, o cliente perde o dinheiro e o produto, a não ser que o fornecedor seja obrigado a fazer o reembolso, de acordo com o tipo de garantias que oferece. Em qualquer dos casos, o mais provável é que o cliente não volte a solicitar os serviços, com receio de ser privado novamente do bem que compra.
A perda de credibilidade é patente, tanto do lado dos fornecedores internacionais como dos nacionais que fazem compras lá fora. Os relatos apontam que não é seguro encomendar produtos electrónicas, como telefones, computadores e tablets, ou artigos de cosmética e beleza, como perfumes e roupa. Além de na maior parte dos casos não chegar no tempo estipulado, verificam-se muitas perdas e desaparecimentos.
O elevado tempo (até um ano) que leva até a entrega a chegar ao destinatário é um factor de reclamação. Outra constatada pelo Expansão está relacionada com os canais de apoio ao cliente e as linhas de atendimento para reclamações, onde as chamadas raramente são atendidas. O serviço de rasteio local também faz parte da lista de queixas, já que não funciona e é necessário deslocar- -se até ao balcão para obter informações sobre a correspondência.
Em declarações ao Expansão, um usuário que não quis ser identificado contou que, mesmo estando disposto a pagar, o fornecedor negou-se a enviar qualquer produto para Angola. “O vendedor não me enviava a encomenda, mesmo eu pagando 13 mil Kwanzas de frete. Entrei em contacto, e ele foi claro em dizer-me que tem perdido muitas encomendas enviadas para Angola. “Angola Rouba”, diz o cliente, reproduzindo a conversa do vendedor. O homem foi ainda informado que a venda só seria concretizada se optasse pelo envio por DHL, uma opção muito mais cara.
“Quando uso outras transportadoras, mesmo quando a encomenda é de origens mais distantes, a correspondência chega, e chega a tempo, e ainda oferecem um serviço de rasteio internacional, que fornece os dados de localização da encomenda. Ao contrário do que acontece com os Correios de Angola, as encomendas que vêm pelos correios privados, como a Speedaf, DHL, Fedex, entre outras, são rapidamente despachadas”, declarou.
Comerciantes são obrigados a interromper actividade
Também Mila Atende, de 25 anos, que comercializa materiais odontológicos e perucas importadas da China, através de sites internacionais de venda online, explicou ao Expansão que nos seus primeiros anos de actividade recebia os produtos pela Empresa Nacional de Correios e Telegráfos de Angola (ENCTA), tendo enfrentado neste período muitas complicações e constrangimentos por causa disso.
A empreendedora, que pratica a actividade há três anos, conta ainda que depois da compra o produto demora no máximo 30 dias até chegar a Angola e estar na posse da ENCTA, vulgo Correios de Angola. Mas a instituição pode demorar entre seis meses até um ano, após a chegada da correspondência às suas instalações, para fazer chegar o produto ao destino final, ou seja, ao comprador. “Tenho mercadorias que estão nos correios há um ano, e outras há um ano e alguns meses”, lamentou a jovem, fazendo também menção às várias tentativas de estabelecer contacto com as linhas de apoio ao cliente, mas sem sucesso.
Mila Atende reclamou sobre a qualidade do serviço prestado, “é péssimo”, e acrescentou que se via muitas vezes obrigada a ter de reembolsar os clientes, por causa da demora para resgatar produtos retidos nos correios, já que trabalha com pré-encomendas. Fui obrigada a parar de fazer importações, porque os correios não ajudam e estou a ver agora possibilidades de usar transportadoras privadas e os serviços de entrega oferecidos pelos próprios sites, o que acaba por ficar mais caro e não compensa muito, mas penso ser a única escolha que resta a quem comercializa produtos importados.