A primeira edição do Festival Otchingandji, que se realizou no domingo na cidade do Huambo, promovida pela Direcção Provincial da Cultura, no âmbito das celebrações dos 50 anos da Independência Nacional, ultrapassou as expectativas, contando com a participação de mais de 350 chingandji, vindos dos 17 municípios da província.

A estreia do Festival do Otchingandji, ao ser um grande sucesso, representou um momento de resgate dos valores culturais e serviu como ponto de referência da realização das próximas edições.
O director do Gabinete Provincial da Cultura no Huambo, Jeremias Piedade Tchissanga, destacou que o evento foi proveitoso e vai ser uma marca das festividades anuais da província, por fazer parte da tradição.
De acordo com Jeremias Piedade Tchissanga, muitas pessoas pensavam que o Otchingandji era uma figura desaparecida, simplesmente estava “distanciado do asfalto”, das zonas urbanas. O objectivo é trazê-lo de volta às cidades, para que os mais jovens tenham contacto com a cultura.”
O responsável referiu que algumas classes de Otchingandji, como é o caso do Muangungu, dos Ovingandji, não se fizeram presentes no Festival porque não saem do seu habitat natural, por ser gigante e carregar dezenas de palhaços no seu interior. As Kaviulas, disse, também não apareceram, devido à sua linha doutrinal.
Dançaram neste Festival os chingandji como Kavandje, Katchilala, Kasinholã, Mulundu, Kambeu, entre outros. O director provincial da Cultura anunciou que o próximo festival será levado a uma comunidade, onde as pessoas possam ter maior contacto com o Otchingandji. A intenção, explicou, é aproveitar a época em que se esteja a realizar o ritual da circuncisão (evamba).
Autoridades tradicionais rebuscam o passado

O Rei da Tchiyaka, Evaristo Pedro Paris Lwandjangombe IV, sublinhou que o resgate dos valores culturais deve ser uma imposição, para que as novas gerações possam buscar sempre aquilo de bom que os antepassados faziam, trazendo de volta os traços tradicionais do passado ligados às comunidades.
De acordo com o soberano do Reino da Tchiyaka, o Festival do Otchingandji visa preservar, resgatar os hábitos e costumes da tradição local. Disse, por outro lado, que, apesar de nos últimos tempos haver um número de pessoas que enveredam para a circuncisão convencional, nas comunidades ainda se preserva a prática tradicional, que normalmente se inicia nos meses de Junho até à primeira quinzena de Agosto.
O Rei do Tchingolo, Tchipikita II, destacou a importância de realizar o Festival de Otchingandji, porque com esta iniciativa se está a passar o legado dos ancestrais às novas gerações, que são chamadas a aliar a tradição ao modernismo.
Esta foi a primeira vez na história do país, em 50 anos de Independência, reconheceu, que se organizou um festival deste género, o que mostra a preocupação do Executivo no resgate dos valores tradicionais.
Otchingandji na cultura umbundu
O investigador cultural Sakaungo Sangalangui disse que o Festival do Otchingandji é um acto de celebração e busca do resgate dos valores culturais do Planalto Central. Referiu que o encontro dos chingandji não tem sido frequente, acontece em momentos especiais, como do evamba, eyele e na morte de um rei.
Sakaungo Sangalangui disse que a palavra tchinganjdji por si só, em umbundu, significa o superlativo sintético da expressão nganji, que se designa em português “o mais eloquente entre os homens”.
O investigador sugeriu que as próximas edições do Festival do Octhingandji sejam realizadas numa época em que os jovens em puberdade terminam a festa de circuncisão (evamba), seleccionar um grupo em cada reino, e fazer uma festa de grande dimensão, com os devidos detalhes, onde predominem a multidão de palhaços. “A circuncisão tradicional ensina muita coisa, desde lidar com um morto, a caça, cuidar da família, o respeito aos mais velhos, entre outros elementos, que fazem parte do dia-a-dia da nossa comunidade”, disse.
“Às nossas tradições havemos de voltar”
Na ocasião, o governador do Huambo considerou a dança do “Otchingandji” uma diversidade cultural que fez cumprir as palavras do saudoso primeiro Presidente da República, António Agostinho Neto, que dizia “Às nossas tradições havemos de voltar”.
Pereira Alfredo disse que as manifestações culturais dos ovingandji, vindos dos reinos do Bailundo, Huambo, Sambo, Tchingolo e Tchiyaka, representados nos 17 municípios da província, demonstram o seu valor enquanto povos. “Desta forma, a província do Huambo é marcada pela positiva, na medida em que se realizou o primeiro Festival Provincial do Otchingandji, onde vivenciamos a alegria das nossas populações presentes neste acto”, disse o governador do Huambo.