A administração pública em Angola, ao longo dos anos, tem sido um tema de debates intensos e variados, principalmente quando se fala sobre a necessidade de reformas ou a continuidade das práticas já existentes. A questão central é: reformar a administração pública ou continuar fazendo de conta que as mudanças necessárias estão realmente ocorrendo?

Angola, após décadas de guerra e instabilidade, passou por uma reconstrução econômica e social significativa, mas a administração pública, em muitos aspectos, ainda reflete traços de um sistema que carece de uma verdadeira reestruturação. A máquina pública angolana é vasta e, em muitos casos, ineficiente, marcada por uma burocracia excessiva, corrupção, nepotismo e falta de profissionalismo.
O debate sobre as reformas vem crescendo, especialmente após a eleição de João Lourenço como presidente, com promessas de maior transparência, eficiência e combate à corrupção. Porém, muitos ainda se questionam se as mudanças são profundas o suficiente ou se são apenas movimentos superficiais para dar a impressão de ação.
A questão da reforma:
Reformar a administração pública em Angola envolve muito mais do que simplesmente mudar as leis e regulamentos. Implica um processo profundo de requalificação de servidores públicos, melhoria das infraestruturas, adoção de tecnologias modernas, e, principalmente, mudança de mentalidade tanto dos governantes quanto dos administradores. O setor público precisa, de fato, funcionar de maneira eficiente para atender aos interesses da população e promover o desenvolvimento do país.
Uma reforma eficaz exige mudanças estruturais, como a descentralização do poder, a transparência na contratação de funcionários e a definição de metas claras e mensuráveis para cada área. As reformas devem ser acompanhadas de investimentos contínuos em capacitação, criando uma cultura de eficiência e responsabilidade.
Porém, a realidade é outra:
A administração pública em Angola ainda enfrenta sérios desafios relacionados à gestão de recursos humanos e à implementação de políticas públicas que realmente tragam benefícios para a população. Em muitos casos, a retórica da reforma parece ser mais uma tentativa de atender às exigências externas de organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial, do que um compromisso genuíno com a mudança. A falta de um planejamento estratégico bem delineado e de um compromisso político realista com a implementação de reformas ainda é uma barreira considerável.
A resistência ao novo:
Outro grande obstáculo para uma reforma verdadeira da administração pública em Angola é a resistência interna. Os interesses pessoais e políticos que predominam em diversos setores do governo, aliados à falta de fiscalização e controle, tornam qualquer tentativa de mudança mais difícil. Além disso, a população, muitas vezes, não sente os impactos das reformas nas suas vidas cotidianas, o que gera um ceticismo generalizado sobre as boas intenções do governo.
Em alguns casos, a impressão que se tem é que a administração pública está mais preocupada em manter o status quo e preservar interesses de grupos já consolidados no poder, do que efetivamente mudar a forma como o país é governado.
Conclusão:
Portanto, a verdadeira reforma da administração pública em Angola parece ser uma tarefa árdua e cheia de desafios. Reformar não é apenas mudar estruturas ou criar novas leis, é mudar a forma como o governo se relaciona com a sociedade e como a máquina pública opera no dia a dia. A pergunta central – “Reformar ou fazer de conta?” – talvez ainda não tenha uma resposta definitiva. Mas a tendência de continuar com mudanças superficiais, sem um comprometimento genuíno com a transformação, parece prevalecer em muitos momentos. Para que a reforma aconteça de fato, será necessário um esforço coordenado e contínuo, com a participação ativa de todos os setores da sociedade e com a criação de condições para que a administração pública se torne realmente funcional e eficiente.