As opiniões dividem-se entre os especialistas. Enquanto alguns defendem o envio imediato de tropas para proteger a fronteira angolana, outros garantem que não há motivos para preocupação.

Angola partilha uma extensa fronteira com a República Democrática do Congo (RDC), a norte e a leste do país. Com o avanço do grupo rebelde M23, que recentemente tomou a cidade estratégica de Goma e prometeu marchar até Kinshasa, muitos se questionam sobre o impacto da crise para o território angolano.
Quais são as consequências imediatas do conflito na República Democrática do Congo para Angola? Será que é preciso reforçar as fronteiras angolanas?
Nelson Euclides, ativista angolano residente no Moxico, defende que o Governo deve agir com urgência, especialmente na região das Lundas.
“E aumentar a presença de tropas. Era o que poderia ser necessário. Com patrulhas nas zonas fronteiriças, para monitorar atividades ilegais e prevenir infiltrações de grupos armados”, sublinha Euclides.
Para o ativista, o reforço da segurança deveria incluir ainda avanços tecnológicos.
“O uso de tecnologias como ‘drones’ e sistemas de vigilância para cobrir áreas de difícil acesso”, acrescenta.
Segurança fronteiriça
Mas Angola teria capacidade para monitorar os mais de 2.500 quilómetros de fronteira terrestre e fluvial, que abrangem sete províncias?
Para Faustino Henriques, jornalista e especialista em relações internacionais, não há necessidade de reforço militar. Segundo ele, o conflito na RDC está concentrado no nordeste do país, longe da fronteira angolana.
“O conflito no nordeste da RDC decorre longe das fronteiras angolanas”, argumenta Henriques.
Entre Angola e as províncias congolesas de Kivu do Norte e Kivu do Sul, epicentro da violência, há várias outras províncias congolesas, como Lomami, Sankuru e Tanganica, que funcionam como um “escudo geográfico”.
Ainda assim, a história recente levanta preocupações. Em 2017, a violência intercomunitária na região congolesa do Kasai forçou cerca de 39 mil refugiados a buscarem abrigo na província angolana da Lunda Norte, segundo dados do ACNUR. Contudo, Kasai está muito mais próximo da fronteira angolana do que os Kivus, onde se concentra o atual conflito.
Neste momento, a pressão recai sobretudo sobre os países vizinhos da RDC, como Burundi, Uganda e Ruanda.
“Esses é que estão a ter alguma pressão com os deslocados”, reforça Henriques.
Entretanto, a questão da segurança fronteiriça continua a ser debatida.
Em janeiro, o governador da província angolana do Uíge, José Carvalho da Rocha, defendeu o reforço da segurança na fronteira com a RDC. No entanto, o motivo principal apontado não foi o conflito armado, mas sim o combate ao contrabando de combustível, à imigração irregular e à exploração ilegal de minérios.