Crianças trabalham na exploração de inertes no município do Huambo

No município do Huambo, dezenas de crianças dedicam-se à actividade de exploração de inertes, concretamente nas comunidades de Sayungui, Belém do Huambo e Ngongowinga.

Cada manhã, dezenas de crianças, munidas de pás, enxadas, bacias e outros utensílios têm a missão de cavar a área, escalando a ravina, com a finalidade de obter areia a partir do rio, trabalham sem equipamentos de protecção nem têm a noção do perigo que correm, uma forma clara de exploração infantil, por parte de pessoas próximas delas.

Na zona de exploração artesanal de areia, João Manuel “Jovani”, de 10 anos, disse que exerce essa actividade há muito tempo, em companhia da mãe e mais outros dois irmãos, no rio designado “Kalwi Kesendje”, no bairro do Sayungui, para não faltar de comer e para comprar medicamentos do pai, que anda doente nos últimos tempos.

O pequeno Jovani afirmou que, além de ajudar a mãe a transportar a areia para a margem do rio, a sua meta é completar um monte que deve ser vendido a 15 mil kwanzas, para encher um camião basculante, cujo valor é repartido com o pessoal que faz o carregamento da areia para o carro.

O dinheiro serve para ajudar a mãe a comprar comida ou fertilizantes.

O pequeno manifestou que a sua mãe não tem condições de os matricular numa instituição escolar, porque o dinheiro não chega para pagar as despesas da escola, por causa da situação económica familiar que se agrava.

Perigos no exercício

Durante a actividade de exploração de areia, as crianças não medem esforços, nem sequer têm noção do perigo que correm nessa actividade. Elas são influenciadas pelas famílias.

Com meios rudimentares como pás, enxadas e martelos, dedicam-se à exploração de inertes junto de rios, causando ravinas, desabamento de pontes, pontecos e outros prejuízos ao meio ambiente. Jovani afirmou que ele e outros petizes envolvidos na actividade são obrigados a despertar muito cedo, todos os dias úteis, para cavar areia no rio.

Processo obedece várias etapas

O processo obedece a várias etapas. Em primeiro lugar, a areia é tirada do fundo do rio e colocada à margem, para escorrer a água, em seguida é transportada para a zona de carregamento, por intermédio de bacias no lugar onde o camião tem acesso. 

O pequeno disse que tem a missão, em cada 4 ou 5 dias, formar um monte grande de areia, cuja carga é vendida aos camionistas, no valor de 15 mil kwanzas.

Os camionistas, por sua vez, vendem ao consumidor final por 60 a 70 mil kwanzas, se for na cidade do Huambo ou no município da Caála. Caso o produto tenha como destino uma localidade mais distante, então o preço aumenta ainda mais.

Jovani diz que aprendeu a actividade com a mãe, que o levava desde tenra idade, porque não tinha com quem ficar em casa e perdeu a oportunidade de estudar as classes iniciais, por falta de condições. Hoje, explorar areia é a actividade que sabe fazer.

Ele e os irmãos, muitas vezes, são igualmente solicitados para pastar o gado bovino e caprino, junto da zona onde exploram areia, praticando a dupla actividade, durante a semana, recebe o pagamento de 4 a 6 mil kwanzas.

Quebra da brita com martelo

Nas imediações do bairro Belém, no Huambo, existem outras crianças com martelos na mão, em actividade de partir a pedra e transformá-la em brita, destinada para a construção civil, um trabalho manual que requer habilidades e pontaria, para não machucar os dedos.

João Severino, de 12 anos, disse que auxilia a mãe a partir as pedras e transformá-las em pequenos fragmentos vendidos em sacos de 50 quilogramas, no valor de 1.500 kwanzas. A medida de uma motorizada de três rodas cheia está no valor de 17 mil.

João Severino disse que por falta de apoio dos seus progenitores, parou de estudar na 4ª classe e hoje trabalha para garantir a alimentação.

O menino ainda pensa em voltar a estudar, mas não vê nenhuma luz no fundo do túnel para o efeito, por falta de condições, porque a mãe e outros cinco irmãos vivem em extrema vulnerabilidade. O trabalho que realizam serve apenas para comer.

A actividade, disse, começa com a quebra das pedras com ajuda do fogo, que serve para fragilizar o material. Para a quebra, utilizam macenetas. Depois de se transformar em pedaços médios, os martelos entram em acção, para se tornar em brita.

Posição do INAC

O director províncial do Instituto Nacional da Criança (INAC) no Huambo, Eusébio Evaristo, reconhece que existem vários espaços em que a dignidade das crianças é violada constantemente, tendo revelado a necessidade de apostar em medidas que visam combater esses actos.

Eusébio Evaristo disse que este ano foram registados 177 casos de exploração e trabalho infantil na província. Nas ruas da cidade e nos mercados, denunciou, encontram-se muitos menores a lavarem viaturas, a carregar carros de mão para ajudar os compradores e tantas outras actividades que não correspondem com a sua idade.

O responsável manifestou que a instituição vai apurar a realidade das crianças que trabalham na exploração artesanal de areia e na britadeira manual e fazer entender aos adultos que incentivam essa prática que o lugar da criança é na escola.

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