Em conversa, o economista Américo Vaz, esclareceu que, embora o nepotismo possa existir na Sonangol, o mesmo não se aplica à recente nomeação da filha do Presidente João Lourenço para a Bolsa de Dívida e Valores de Angola (BODIVA).

“Em relação à BODIVA, trata-se de uma sociedade anônima onde o Estado, por meio do Ministério das Finanças, detém apenas 30% de participação. O restante pertence a acionistas privados, como bancos, seguradoras e outras entidades”, explicou Vaz. Segundo ele, a escolha do Presidente do Conselho de Administração (PCA) cabe exclusivamente aos acionistas majoritários reunidos em Assembleia Geral.
“Nesse caso específico, não há indícios de nepotismo ou favorecimento”, reforçou o economista.
No entanto, Vaz alertou que essa prática ainda é comum em várias instituições do país.
“Parece-me que a Administração Geral Tributária (AGT) é um caso flagrante de nepotismo. O mesmo ocorre no Serviço de Migração e Estrangeiros (SME), onde muitos cargos são ocupados por familiares de figuras públicas”, afirmou.
O economista também apontou que a prevalência do nepotismo compromete a eficiência do sector público.
“Os melhores empregos no aparelho estatal são ocupados por pessoas ligadas a dirigentes do país, o que fere as leis de probidade. Por isso, as empresas públicas não são competitivas nem orientadas para o mercado”, concluiu.
José Severino, presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), corroborou as críticas, afirmando que o problema é sistêmico.
“Não há rigor nos processos de nomeação no setor público. Além disso, há o chamado ‘cruzamento de nepotismo’, onde um dirigente favorece o filho de outro em troca de benefícios semelhantes”, disse.
Segundo ele, “áreas estratégicas do Estado estão repletas de filhos de governantes, enquanto os concursos públicos, que deveriam garantir meritocracia, simplesmente não existem. Essa prática já faz parte do modus operandi de muitas instituições”.