A província do Huambo acolheu, na última quinta-feira, uma conferência dedicada ao tema “Estado Actual do Cinema Angolano e as Indústrias Culturais Rentáveis”, onde se discutiram os principais desafios e oportunidades da sétima arte no país. O encontro, promovido pela Associação Provincial de Cinema e Audiovisual (APROCIA), reuniu cineastas, actores e especialistas do sector.

Um dos principais intervenientes, o cineasta e actor Tomás Ferreira, destacou que o cinema angolano enfrenta entraves estruturais, sobretudo a nível financeiro e da falta de infra-estruturas adequadas para exibição de filmes. Segundo ele, a ausência de uma verdadeira indústria de distribuição e de empresários focados na produção nacional faz com que o cinema em Angola seja quase inexistente.
Para Tomás Ferreira, mais do que produzir filmes em condições precárias, é urgente que o Estado crie leis de incentivo, invista em salas de exibição, formação de recursos humanos e garanta apoio financeiro para que a produção cinematográfica possa ganhar força e alcançar padrões internacionais.
O presidente da Associação Angolana de Profissionais de Cinema e Audiovisual (APROCIMA), Sílvio Nascimento, reforçou esta visão, afirmando ser prematuro falar em cinema no país devido à falta de uma estrutura funcional. Na sua óptica, só haverá cinematografia angolana quando forem criadas as condições básicas que sustentam a cadeia produtiva – da produção à distribuição.
“É necessário, em primeiro lugar, a vontade política do Estado para criar políticas consistentes e, em segundo, o desenvolvimento de um mercado próprio, protegido por leis que salvaguardem o exercício cultural”, sublinhou Sílvio Nascimento.
Já o actor Grande João lembrou que, apesar da falta de infra-estruturas, equipamentos e especialistas qualificados — sendo que, segundo ele, “99,9% dos criadores culturais não têm formação” — existe da parte dos artistas vontade e iniciativas concretas. Reconheceu, no entanto, que a produção cinematográfica nacional ainda não atingiu o nível de qualidade exigido no panorama internacional.
Apesar dos inúmeros desafios, os participantes foram unânimes em reconhecer que o cinema angolano tem dado passos importantes e que precisa de maior apoio institucional para se consolidar.
O ciclo de conferências sobre o “Estado Actual do Cinema Angolano e as Indústrias Culturais Rentáveis” vai estender-se, nos próximos dias, às províncias da Benguela, Huíla e Namibe, com o objectivo de despertar a consciência pública e mobilizar esforços em prol da revitalização da sétima arte no país.