O Cardeal Jorge Mario Bergoglio foi eleito Papa em 13 de Março de 2013, faleceu, segunda-feira, pelas primeiras horas da manhã, aos 88 anos de idade, segundo uma notícia anunciada pelo Vaticano directamente da Capela da Casa de Santa Marta.

Foi o 266.º Papa da Igreja Católica, Bispo de Roma e Soberano da Cidade do Vaticano de 13 de Março de 2013 até à data da sua morte. Foi o primeiro Bispo de Roma a ser membro da Companhia de Jesus (Jesuítas), o primeiro das Américas, o primeiro do Hemisfério Sul, o primeiro Pontífice não europeu em mais de 1 200 anos (o último havia sido o sírio Gregório III, morto em 741) e o primeiro Papa a utilizar o nome de Francisco.
Tornou-se arcebispo de Buenos Aires em 28 de Fevereiro de 1998 e foi elevado ao cardinalato em 21 de Fevereiro de 2001 — véspera da festa da Cátedra de São Pedro — com o título de Cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino, por São João Paulo II.
Ao longo da sua vida pública, o Papa Francisco destacou-se pela sua humildade, ênfase na misericórdia de Deus, visibilidade internacional como Papa, preocupação com os pobres e compromisso com o diálogo inter-religioso. Ele é creditado por ter uma abordagem menos formal ao papado do que seus antecessores, por exemplo, escolhendo residir na casa de hóspedes Domus Sanctae Marthae, em vez dos aposentos papais do Palácio Apostólico usados por Papas anteriores.
Seguem-se as reacções um pouco por todo o mundo, numa altura em que as autoridades angolanas enviaram mensagens de condolências aos cristãos católicos em geral e ao Vaticano em particular.
O Jornal de Angola colheu reacções de líderes religiosos de várias paróquias e dioceses espalhadas pelo país, bem como notas fúnebres de entidades de diferentes confissões religiosas.
BREVE TRAJECTÓRIA ATE AO PAPADO
Jorge Mario Bergoglio nasceu a 17 de Dezembro, em Buenos Aires. Seus pais, Mario e Regina, eram italianos
Entra no seminário do bairro Villa Devoto, como novato da Companhia de Jesus
Volta para Buenos Aires para se envolver no ensino de Literatura e Psicologia na Faculdade de El Salvador
Começa o seu sacerdócio. Nesse mesmo ano viaja para a Espanha ao encontro do seu ‘probandato’ terceiro
Lecciona na Faculdade de Teologia de São Miguel e é reitor da Escola Máximo Colégio de Filosofia e Teologia
É nomeado director espiritual e confessor da Companhia de Jesus. Escreve o seu segundo livro, ‘Reflexões sobre a vida apostólica’.
Nomeado arcebispo de Buenos Aires coauditor.
Torna-se arcebispo de Buenos Aires, após a morte do Cardeal Quarracino.
Rompe a relação entre Igreja e Estado na Argentina
Torna-se o Papa da Igreja Católica, 266, Francisco
Passamento do Sumo Pontífice é um duro golpe para o mundo e imensa perda para os católicos
O Presidente da República, João Lourenço, considerou, segunda-feira, em Luanda, em mensagem de condolências ao cardeal Kevin Joseph Farrel, Camerlengo do Vaticano, pelo falecimento do Papa Francisco, que a morte do Sumo Pontífice constitui um duro golpe para o mundo e uma imensa perda para os cristãos católicos.
Para o Chefe de Estado, que evocou dor e tristeza pelo passamento do Santo Padre, ocorrido ontem pelas primeiras horas da manhã, os cristãos católicos “viam nele uma das grandes esperanças na construção de um mundo mais justo e equilibrado, por ter sido um líder comprometido com a paz, com a justiça social e com os mais desfavorecidos”.
João Lourenço lembrou que “durante o Seu Pontificado, soube ser um intérprete sagaz das inquietações do mundo moderno e, em face disso, pudemos ter tido o privilégio de o ver avançar em tomadas de posição corajosas que modificaram abordagens desajustadas do nosso tempo e atenderam mais cabalmente questões sobre a diversidade no seio da Igreja Católica”.
Por fim, o Chefe de Estado dirigiu, em seu nome e no do Executivo, ao Estado do Vaticano e aos fiéis da Igreja Católica em todo o mundo,“as mais sentidas condolências pelo passamento físico desta insigne personalidade universal”, exprimindo, igualmente, “os sentimentos de solidariedade nesta hora de dor e luto para a Igreja Católica”.
Carolina Cerqueira
Presidente da Assembleia Nacional enaltece legado
A presidente da Assembleia Nacional, Carolina Cerqueira, considerou, segunda-feira, em nota fúnebre pela morte do Papa Francisco, ocorrida no mesmo dia, que o Sumo Pontífice foi uma voz profética no nosso tempo e que denunciou as injustiças sociais.
De acordo com a nota de imprensa enviada em nome dos deputados, a líder parlamentar afirmou que o Papa enfrentou, com coragem evangélica, os desafios do mundo actual na busca por soluções pacíficas para os vários conflitos que assolam a Humanidade, combatendo a cultura da indiferença.
“O Papa Francisco foi um Papa do diálogo, da escuta, da misericórdia. Um homem que recolocou Cristo no centro da Igreja e da consciência global, chamando todos — crentes e não crentes — à conversão pelo amor. Nunca deixou de apelar por uma melhor distribuição da riqueza mundial e manteve uma atenção especial na defesa da justiça social e das causas ambientais,” disse.
A líder da Casa das Leis sublinhou que, neste momento de dor e de silêncio, “reafirmamos a nossa gratidão pela vida, pela obra e pela fé inabalável do Papa Francisco. Que o seu exemplo de humildade, de serviço apostólico e de defesa dos mais pobres continue a iluminar os caminhos da política, da diplomacia e da convivência pacífica entre os povos”, lê-se no comunicado.
“Legado é uma missão do Evangelho da vida”
O presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, reagiu com pesar à notícia do falecimento do Papa, ocorrido, ontem, pelas primeiras horas da manhã, destacando o seu legado como uma missão do Evangelho da vida.
“A notícia da morte é sempre dolorosa, angustiante, mas também um momento de gratidão pela vida e pelo testemunho do que ele nos deixou”, afirmou o arcebispo.
Segundo Dom Manuel Imbamba, o Papa foi um verdadeiro pastor, um discípulo de Jesus Cristo que soube discernir os sinais de Deus ao longo da história do mundo. “Ele ofereceu ao mundo o valor e a alegria do Evangelho. O Santo Padre convidou a humanidade a focar-se nos problemas que afligem, buscando soluções calmantes e harmonia social “, afrimou Dom Imbamba.
O líder da CEAST sublinhou, ainda, que o Papa foi um grande reformador da Igreja. “Reformou a Cúria Romana, o modo de celebrar os sínodos e, com o processo da sinodalidade, abriu espaço para o diálogo com todas as sensibilidades da Igreja sobre os problemas mais urgentes.”
O prelado acredita que as reformas iniciadas pelo Santo Padre terão continuidade com o seu sucessor. “A Igreja deve ser, cada vez mais, missionária, dinâmica e próxima de todas as camadas sociais” ,disse.
A CEAST está a preparar um programa de celebrações e orações que antecedem o funeral do Papa. “Oportunamente, daremos a conhecer o programa completo. Serão dias de reflexão, oração e homenagem”, revelou.
O arcebispo destacou o simbolismo da escolha do nome Francisco, inspirado em São Francisco de Assis, um dos santos mais reverenciados da Igreja Católica, que ficou conhecido por sua vida dedicada à pobreza e à simplicidade. “Desde o início, queria uma Igreja simples, despojada de ostentação e focada na evangelização. Foi um verdadeiro evangelista da ecologia e defensor incansável da paz e da fraternidade mundial”, atestou o chefe da Conferência Episcopal. Segundo o presidente da CEAST, o Papa apelou constantemente à justiça social, à solidariedade e à abertura da Igreja aos mais marginalizados. “O Papa foi um pastor que abriu a Igreja aos recantos mais inóspitos do mundo, um exemplo de amor, humildade e compromisso com os mais simples ”, disse.
Lembrado pela simplicidade
O secretário-geral do Conselho de Igrejas Cristãs em Angola (CICA), reverendo Vladimir Agostinho, disse, ontem, em Luanda, que Jorge Mário Bergoglio “Papa Francisco” será lembrado pela sua simplicidade.
O reverendo falou à imprensa no seguimento em reacção à morte do Papa Francisco, lembrado pela sua simplicidade, amor, coragem apostólica e portas abertas a todos.
“O compromisso ecuménico foi uma das suas maiores prioridades, carregamos sempre em nossos corações os ensinamentos que deixaram com seu trabalho, seus gestos e suas palavras”, explicou.
Reacção do Núncio Apostólico
O Núncio Apostólico de Angola e São Tomé, Don Kryspin Dubiel, disse, ontem, em Luanda, que o Papa Francisco ensinou durante a sua vida a viver os valores do Evangelho com fidelidade, coragem e em favor dos mais pobres.
Don Kryspin Dubiel lembrou, no entanto, de que o Sumo Pontífice deixa um exemplo como pastor da Igreja Universal, atento a cada pessoa e desejoso de dar apoio a todos que seguem Jesus como Mestre.
O Núncio disse, ainda, que a Igreja reza, pois o Papa regressou à Casa do Pai, “embora nos deixe em tristeza, por isso vamos dar continuidade dos seus feitos, em prol dos problemas sociais”.
“É uma tristeza ,mas ao mesmo tempo alegria, pois o Papa está com o Pai, por isso as nossas preces são dirigidas especialmente porque nos deixa num momento que Cristo ressuscitou dos mortos”, disse.
A vida do Papa Francisco
O Papa Francisco é o 266º Pontífice da história da Igreja Católica, eleito Papa no conclave de 2013. A eleição aconteceu logo depois da renúncia de Bento XVI por questões de saúde. Francisco adoptou esse nome por conta de São Francisco de Assis.
O Papa Francisco é conhecido como o primeiro Papa jesuíta e originário do continente americano na história da Igreja Católica. Nascido numa família de descendência italiana, Francisco iniciou sua trajectória religiosa na década de 1950, quando passou a fazer parte da Companhia de Jesus.
Jorge Mario Bergoglio nasceu no dia 17 de Dezembro de 1936, sendo originário da capital argentina, a cidade de Buenos Aires. Era descendente de italianos, uma vez que seu pai era italiano e sua mãe era filha de italianos. Foi o filho mais velho do casal formado por Mario Bergoglio e Regina Sivori.
Do ponto de vista profissional, Jorge Bergoglio foi técnico Químico, actuando no ramo da Alimentação antes de seguir a carreira religiosa. Outro destaque da sua juventude foi o apreço pelo futebol.
O Cardeal Kevin Joseph Farrell é homem que vai liderar o Vaticano até a eleição do próximo Papa, após o anúncio da morte do Papa Francisco, ocorrido hoje às 7h35 (hora de Roma), entra automaticamente em acção a figura de Camerlengo, cuja função, entre outras, passa por guiar os destinos da Igreja e do Vaticano até a eleição do próximo Papa.
O Camerlengo assume a administração do Vaticano e dos bens da Santa Sé, assegurando o funcionamento da Igreja durante a Sé Vacante, período entre a morte de um Papa e a eleição do seu sucessor.
O bispo tem, igualmente, como responsabilidades supervisionar e organizar o Conclave, o processo de eleição do novo Papa, assim como acompanhar a organização do funeral de Francisco.
O actual Camerlengo é o cardeal irlandês, Kevin Joseph Farrell foi a figura responsável por confirmar oficialmente o falecimento do Papa, tocando sua testa com um martelo de prata e chamando-o três vezes pelo nome de baptismo.
Razão da escolha do nome Francisco
Logo ao ser escolhido, o novo Papa começou por bater vários recordes: era o primeiro Papa jesuíta, o primeiro Papa da América do Sul (além de Papas europeus, na antiguidade houve vários Papas vindos da Ásia, sobretudo da península arábica, como a Síria), o primeiro Papa do Hemisfério Sul (“venho do fim do Mundo”, proclamou Bergoglio)… Mas o que mais impressionou foi o nome escolhido, Francisco, por causa da simbologia: um dos santos mais queridos da Igreja, São Francisco de Assis é o santo dos pobres e dos animais (era conhecido por pregar aos pássaros). E, no entanto, nunca um Papa escolhera o nome… A 13 de Março de 2013, o Papa Francisco revelou ter escolhido esse nome exactamente porque queria uma “Igreja pobre” e “para os pobres”. Como o cardeal Bergoglio era jesuíta, inicialmente ainda se pensou que o nome escolhido poderia ser por causa do também santo Francisco Xavier, padroeiro dos missionários e que, com os portugueses evangelizou o Oriente, de Malaca ao Japão, passando por Macau, e sobretudo a Índia, onde está sepultado, em Goa. Mas talvez por prudência – sendo jesuíta, o novo Papa não quis sublinhar um outro jesuíta, porque a congregação de ambos, a Companhia de Jesus, foi muito perseguida pela própria Igreja Católica – o Papa Francisco preferiu referir o fundador dos franciscanos, ou capuchinhos, Francisco de Assis, Il Poverello, o amigo dos pobres. Os capuchinhos são os padres da igreja de São Paulo, em Luanda, onde o Presidente Eduardo dos Santos foi baptizado.
Os papas dos primeiros séculos continuavam a usar o seu nome de baptismo, embora Pedro, o fundador terreno da Igreja, tivesse como nome comum Simão. Mas, em 533, foi eleito um pobre padre chamado Mercúrio, nome de divindade pagã, pouco própria para o chefe de uma Igreja que tinha um só Deus. Mercúrio mudou o nome para João II, homenageando um anterior Papa, João I. Desde aí, tornou-se tradição os Papas mudarem sempre para outro nome que não o de baptismo. Com duas excepções: Adriano VI chamava-se Adrano Florenz e Marcello II, Marcello Servini. Paradoxalmente, até agora nunca tinha havido nenhum Papa a querer chamar-se António ou Francisco, de dois dos santos mais populares da Igreja, Santo António e Francisco de Assis. Este Papa Francisco deu cabo de metade dessa tradição. Em 1978, dois Papas de seguida e no mesmo ano, deram-se um nome duplo, o que até então nunca tinha sucedido: o cardeal Luciani quis chamar-se João Paulo I, para homenagear os dois Papas que o precederam, João XXIII e Paulo VI, e o cardeal polaco Wojtyla quis ser João Paulo II, para homenagear o antecessor.