Em algumas regiões de Angola, a realidade é marcada pelo medo e pela insegurança devido ao tráfico de seres humanos, com as crianças sendo as maiores vítimas. Segundo Edvalda dos Santos, diretora nacional dos Direitos Humanos, mais de 200 casos foram registrados nos últimos três anos, e cerca de metade das vítimas conseguiu retornar para suas famílias. O tráfico afeta principalmente os mais vulneráveis, e dados da ONU revelam que Angola é tanto ponto de origem quanto destino para pessoas submetidas à exploração sexual, trabalho forçado e até ao tráfico de órgãos.
O sacerdote católico Abreu Cuvinga, que atua em comunidades impactadas, descreve o cenário como desolador. “Vivemos com medo constante, sabendo que o tráfico pode atingir qualquer um de nós”, lamenta. Ele destaca que as crianças são exploradas em áreas como construção, agricultura e trabalho doméstico. Para piorar, as forças de segurança muitas vezes não conseguem conter as redes criminosas. A organização “Ame Dimuno”, que atua na fronteira com a Namíbia, também denuncia casos envolvendo estrangeiros e tem promovido campanhas para conscientizar as comunidades sobre a importância de denunciar esses crimes.
Para Pio Wakussanga, defensor dos direitos humanos na região sul, o problema persiste mesmo com alguns avanços. Ele relembra que, no passado, menores eram retirados de suas famílias para trabalhos forçados em fazendas, onde muitas vezes sofriam abusos. “Ainda temos um longo caminho a percorrer para proteger plenamente as crianças e os mais vulneráveis”, afirma.
Em resposta a essa crise, o governo angolano criou, em 2023, uma comissão interministerial para combater o tráfico humano. Foram implementados mecanismos de proteção e assistência às vítimas, mas ainda há desafios significativos. Segundo as leis nacionais e a Declaração Universal dos Direitos Humanos, o tráfico é definido como qualquer ato de exploração que envolva engano, coerção ou violência, resultando em práticas como escravidão moderna e comércio de órgãos.