Mais de oito mil casos de fuga à paternidade foram registados em 2024, no país, num universo de 18.555 alertas às autoridades sobre a violência contra crianças, de acordo com o relatório da linha SOS-Criança.
Os destaques recaem para as províncias de Luanda (2.102), Benguela (1.281), Huíla (246) e Huambo (562).
O chefe de departamento de Prevenção de Violência e Proteção dos Direitos da Crianças do Instituto Nacional da Criança (Inac), Bruno Pedro, que considera grave o problema, disse que os casos abrangem desde professores, pastores (religiosos), jornalistas, taxistas, polícias e militares, sendo estas duas classes profissionais as mais denunciadas.
“Estamos satisfeitos porque há agora uma colaboração muito grande com esses dois órgãos [polícia e forças armadas], porque todas as situações tão logo os responsáveis tenham conhecimento, por um lado, denunciam e encaminham para aqui. Por outro lado, temos sido recorrentemente solicitados para fazer trabalhos de sensibilização, de informação”, observou.
“A fuga à paternidade (…) tem sido o tipo de violência contra criança que mais se pratica nos nossos registos”, disse Bruno Pedro.
Segundo o assistente social, o problema é grave, porque a ausência do pai e, em alguns casos, também abandono por parte das mães, deixa traumas nas crianças que podem tornar-se futuros cidadãos “desprovidos de várias habilidades para viverem socialmente”.
“Hoje, nós olhamos para a crise no seio das famílias e da sociedade, mas precisamos nos questionar que tipo de cidadãos é que temos, sendo que uma boa parte deles vêm de um contexto em que foram vítimas da fuga à paternidade”, frisou.
Para Bruno Pedro, os números estão aquém da realidade, apesar de irem aumentando as denúncias, salientando que se verifica um aumento do número de crianças na rua, que dizem ter família.
“Temos situações nos bairros de muitas crianças que à noite circulam desacompanhadas, atravessam de uma província para outra, sozinhas. Reconhecemos um ambiente de muita fragilidade e que dá azo a que muitas crianças sejam vítimas de rapto, tráfico, abuso sexual, atropelamento e outras coisas”, disse.
Em 2024, de acordo com Bruno Pedro, preocupou também o aumento de casos de exploração do trabalho infantil (2.875), a violência física (1.722), a violência psicológica (875), a violência sexual (649), entre outros casos relacionados à violência contra a criança.
“Precisamos muito de sensibilização, porque há uma consciência de normalização de violência contra a criança, que precisamos desmistificar”, apelou.